| O setor de tecnologia entra em 2026 vivendo uma nova fase de transição, daquelas que mudam de forma consistente a maneira como as empresas pensam, planejam e investem em infraestrutura. Por muitos anos, o processamento foi desenhado para aplicações generalistas. Agora, com a rápida evolução da inteligência artificial, esse eixo se desloca rapidamente, trazendo implicações técnicas, energéticas e estratégicas que já começam a se materializar. Essa tendência altera padrões técnicos, força novos desenhos de data centers e modifica a lógica de investimento das empresas, que passam a demandar soluções de alta densidade energética e arranjos térmicos mais sofisticados. Esse movimento aparece, antes de tudo, dentro dos data centers. A concentração crescente de aceleradores e unidades de alto desempenho exige conexões ultrarrápidas, armazenamento com acesso direto aos dados e arquiteturas pensadas para minimizar latência e escalar de forma eficiente. Na prática, isso se traduz na expansão de estruturas de grande porte, algumas já projetadas para operar na casa das centenas de megawatts. Estudos internacionais, como o BloombergNEF 2025, apontam para um crescimento acelerado desses complexos, pressionando decisões que começam no nível do rack e chegam até o planejamento urbano. Outro ponto que deixa de ser secundário e passa ao centro das discussões é o resfriamento dos servidores. Cargas de trabalho de inteligência artificial e HPC já não se sustentam com os modelos tradicionais. A refrigeração líquida, seja direta ao chip ou em arquiteturas híbridas, deixa de ser uma solução de nicho e passa a compor o padrão dos ambientes mais avançados. Além de permitir maior densidade computacional, esses sistemas trazem ganhos importantes em eficiência energética, estabilidade operacional e redução de ruído. Com projeções de crescimento anual de dois dígitos para essa categoria, o desafio passa a ser equilibrar desempenho, custo e sustentabilidade. A questão energética forma o terceiro grande eixo dessa transformação. A Agência Internacional de Energia estima que a demanda elétrica dos data centers deve saltar de 415 TWh para 945 TWh até 2030. Na prática, estamos falando de uma duplicação do consumo global impulsionada em grande parte pelas cargas de inteligência artificial. Esse cenário obriga uma aproximação inédita entre times de tecnologia, engenharia elétrica e áreas de sustentabilidade. Energia renovável, reaproveitamento de calor, cogeração e a escolha estratégica da localização dos data centers deixam de ser diferenciais competitivos e passam a ser requisitos básicos para a viabilidade dos projetos. Ao mesmo tempo, avança a preocupação com segurança e soberania dos dados. Órgãos reguladores ampliam exigências relacionadas à privacidade e à localização das informações, enquanto as empresas buscam equilibrar nuvens públicas, estruturas próprias, data centers de colocation e modelos híbridos. O desafio está em combinar baixa latência, proteção contra vazamentos e autonomia sobre dados sensíveis, sem comprometer escala e flexibilidade. Os impactos dessa transformação se espalham rapidamente pela economia. No setor financeiro, modelos avançados passam a sustentar análises de risco, prevenção a fraudes e atendimento automatizado. A indústria acelera o uso de gêmeos digitais, manutenção preditiva e simulações intensivas em processamento. Cadeias de suprimentos recorrem a algoritmos para otimizar rotas e reduzir falhas. Saúde, varejo e setor público seguem o mesmo caminho, ampliando o uso de modelos multimodais e serviços digitais com respostas em tempo praticamente imediato. No Brasil, 2026 deve marcar avanços importantes em eficiência energética, maior responsabilidade no uso de água, acordos de energia renovável e expansão de centros regionais voltados a cargas sensíveis à latência. A base elétrica nacional, com participação relevante de fontes limpas, vem oferecendo vantagem competitiva nessa corrida. Empresas que buscam reduzir a própria pegada de carbono observam o país como ambiente favorável para instalação de clusters de inteligência artificial. A diferença fundamental entre este e o próximo ano está na maturidade das grandes estruturas dedicadas à inteligência artificial. Se, nos últimos anos, o setor de tecnologia conviveu com anúncios e protótipos, 2026 inaugura a fase produtiva. Instalações com milhares de aceleradores, racks de alta densidade e sistemas térmicos líquidos deixam de ser exceção e tornam-se padrão. O planejamento energético passa ao centro das principais discussões, ao lado da eficiência por unidade de processamento. O ano que se inicia vai exigir mais do que intenção. Estratégia e execução precisam caminhar juntas. Modelos de negócio orientados por dados deixam de ser promessa e passam a definir competitividade. A infraestrutura deixa de ser apenas suporte e assume protagonismo na capacidade de inovar, crescer e se manter relevante em um mercado global no qual a informação passa a ter um valor comparável, ou até superior, ao da produção física. As organizações que entenderem essa mudança e agirem rápido estarão mais bem posicionadas para reduzir custos, acelerar a inovação e construir vantagem competitiva sustentável. |